quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Canivete-de-mola de Occam.

E, enquanto boa parte da multidão brandia a mesma bandeira. Enquanto todos bradavam o mesmo nome. A mesma legenda. A mesma ideologia. A mesma cor. A mesma simbologia. Enquanto todos se agitavam como um tronco podre de madeira totalmente preenchido de vermes, que repentinamente é quebrado e obriga os vermes a se socarem ainda mais, pulsando, vibrando juntos, de forma totalmente aleatória. Sem nem saber o motivo. Só porque o resto dos vermes também pulsava. Também se balançava. Enquanto todos seguiam adotando as ideias alheias, comprando a luta que nem sabiam muito no que consistia, ele se mantinha de fora.

E observava. E cortava com seu canivete-de-mola, que só ele via, o tecido engordurado da realidade. E via o recheio desse aglomerado, sem indivíduo, uma unidade, uma entidade, que só poderia ser chamada de algum nome como Massa. Com M maiúsculo. Via essa entidade de forma transparente como um cristal polido de quartzo macrocristalino anédrico. As palavras flutuavam, nítidas, sobre a Massa. Lia-se "a Massa é imbecil".

Ele sabia que se fosse empurrada pelo seu Pai, a Massa iria cegamente a qualquer lugar. Deixaria que lhes tirassem o chão debaixo de seus milhões de pés. E cairia, sem perceber até se chocar contra o fundo distante do Poço, se espatifando de volta nos indivíduos. Muitos dos indivíduos partidos. Mas a Massa não aprende. Só o indivíduo aprende.

Então se abaixou junto do solo e puxou o Assoalho com toda a sua força.

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